Todos sabemos que a vida não é perfeita. Então, por que motivo teimamos em reclamar por tudo e por nada? Queixamo-nos do clima, do trânsito, da falta de tempo, do excesso de trabalho (ou da falta dele), do cansaço, dos colegas, do familiar inoportuno, do preço do combustível, da fila no supermercado e até dos filhos e das tarefas domésticas.
Tornámo-nos numa sociedade onde a queixa constante passou a ser normal e aceitável, um ato que se repete como se de um reflexo se tratasse. Expressar sentimentos de frustração, descontentamento, dor, desagrado e injustiça passou a ser uma resposta natural, sem filtro ou consciência.
Ainda que, naturalmente, existam momentos e situações que exigem um juízo crítico e uma voz ativa, na maioria dos casos, queixarmo-nos nunca poderá ser a resposta mais positiva, independentemente das circunstâncias. Queixas e reclamações constantes sobre a vida e sobre os outros contribuem apenas para alimentar uma nuvem negra de negatividade, que teima em pairar, queixa após queixa.
Por que é que devemos (mesmo) repensar as nossas queixas?
Promove uma atitude negativa – Queixar irá atrair o nosso foco para os aspetos negativos, para todas as coisas e circunstâncias que não estão bem à nossa volta. É uma atitude que apenas nos fará mergulhar no negativismo e no conflito, afastando o olhar das coisas boas.
Contagia os outros – Ao queixarmo-nos, não estamos apenas a partilhar uma série de coisas negativas, estamos, também, a estimular e a alimentar a negatividade de quem nos ouve. Rapidamente, em vez de ser um a queixar-se, serão dois ou mais, sem que ninguém se tenha apercebido disso. A má notícia é que nenhum dos lados se ficará a sentir melhor.
Afasta as pessoas – Ao contrário das pessoas que facilmente se aliam num movimento pró-queixa, existem também as pessoas que não têm qualquer interesse em ouvir um role de reclamações e negatividade. Partilhar e desabafar sobre problemas, sim. Mas se nos estivermos constantemente a queixar, nunca seremos uma boa companhia.
Não soluciona problemas – Queixas sobre o frio excessivo, ou sobre o trânsito interminável não têm qualquer poder mágico de alterar as circunstâncias e muito menos de solucionar o motivo do desagrado. Apenas a ação, quando possível, terá esse poder.
O desconforto tem um propósito – Se tudo nas nossas vidas fosse perfeito, agradável e tal como desejamos, nunca seriamos capazes de desenvolver a nossa paciência, capacidade de adaptação, resiliência e criatividade. Seja a nível fisico, mental ou emocional, o desconforto tem muito para nos ensinar.
Estratégias para minimizar as queixas e reclamações
Comece por refletir – A maioria das pessoas queixa-se e reclama sem sequer ter noção da quantidade de vezes que o faz. A partir do momento em que tomamos conhecimento dos efeitos negativos e prejudiciais associados a esse padrão, seremos capazes de refletir e perceber a necessidade de mudança. Esse é o primeiro passo para se decidir e comprometer a adotar uma postura diferente.
Aceite a imperfeição – Quando nos queixamos, está implícita a mensagem de que as coisas deveriam ser diferentes, que não são perfeitas, que nos desagradam e incomodam. Como se do mundo e das pessoas fosse esperada perfeição. Um dos passos mais importantes nesta mudança passa pelo adotar de uma nova visão: reconheça que nada pode ser perfeito. O desconforto faz parte da nossa existência e, sempre que nos virmos numa situação de incómodo, devemos apenas questionar se há algo que possamos fazer para alterar as circunstâncias. Se nada puder fazer, aceite.
Fique atento ao seu discurso – Após refletir, comece a reparar mais no seu discurso. Observe a quantidade de vezes que reclama ou se sente tentado a expressar uma queixa. A maioria das pessoas tende a iniciar o discurso com uma queixa, que servirá de mote para o desenrolar da conversa, uma vez que irá gerar sempre uma reacção do outro lado. Esteja atento e opte sempre por uma abordagem mais positiva.
Reconheça os seus padrões – Seguramente, saberá reconhecer qual o período do dia em que tende a queixar-se mais – se é na correria da manhã, no trabalho, no trânsito que apanha no regresso a casa, na interação com os seus filhos, etc. Da mesma forma, existem também pessoas com quem tendemos a cair mais facilmente nesse padrão de reclamação e queixa – seja porque nos incomodam ou porque simplesmente ouvem e alimentam a conversa. Analise o seu padrão de queixas e fique especialmente atento ao seu discurso nesses períodos e na companhia dessas pessoas.
Saiba quando ter voz ativa – Reclamar menos não significa abandonar o espírito crítico. Pelo contrário, trata-se de afiná-lo e usá-lo apenas quando a situação, de facto, necessita. Sempre que se deparar com uma situação de desagrado, originada por algum tipo de erro ou falha de comunicação, fale assertivamente. Comunique o seu desagrado, sempre que a resolução da situação for possível, mantendo sempre em mente que apenas queixar-se para o lado de nada irá ajudar.
Estabeleça metas viáveis – A intenção da mudança não pode passar por estabelecer um compromisso como “nunca mais me vou queixar” – todos sabemos que seria pouco realista. Estamos a falar de ganhar consciência e, através dela, comunicar de forma também mais consciente, encarando a vida de modo mais positivo. Comece por estar mais atento e focado no seu discurso, especialmente nos momentos mais stressantes do dia. Posteriormente, poderá instituir um dia por semana como o “dia sem queixas”, que se revelará como um exercício altamente eficaz.